Sanatório Geral

Sanatório Geral

Por Antônio de Oliveira

Tempo de carnaval. Por aqui vai passar um samba popular. E eu vou nessa com Chico Buarque, em tom irônico, lá pelos idos de 1984, época das Diretas-já. Mesmo enquanto dorme a nossa pátria mãe tão distraída, nada impede de haver carnaval e, em alguns lugares, de alto, altíssimo custo, seja no sambódromo da Marquês de Sapucaí seja em monumentais trios elétricos. E atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. Enquanto isso, enquanto dorme (“Nessun dorma!”), nossa pátria mãe tão distraída é saqueada, subtraída em inimagináveis, espúrias e milionárias transações passando por propinodutos bem desenhados. E ninguém via. Ninguém sabia.

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O povo brasileiro, penitente, sem saber qual o seu pecado, trabalhando dia e noite, por isso cansado, acreditando cegamente nas autoridades. E, como miséria pouca é bobagem, eis que surge uma quádrupla epidemia. Quádrupla que rima com quadra, quadra de escola de samba. Esse quarteto passou a tomar conta do País: dengue, chikungunya, zika vírus, microcefalia. Um sanatório geral, de Chico, ou de Simão Bacamarte do conto de Machado de Assis. Sem vigilância, e de atendimento médico precário. O povo sem saber se chora ou se ri, num perene carnaval, ou se senta e chora.

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Tempo de carnaval. Tempo de tirar o bloco da quadra e botar o bloco na rua. Alegria fugaz, mas alegria. Pão e circo, samba e futebol. Assim caminha nosso Brasil, sempre devendo, o povo sempre tendo que pagar a conta. Até quando?

O carnaval acabou. Passaram-se os dias em que brasileiros de diversas classes sociais se nivelam num aperto de saudade no tamborim, molhando o pano da cuíca com as próprias lágrimas. Por três dias deixam de lado as roubalheiras nesta mãe gentil pátria educadora. Zombam dos outros e da própria sorte, gingando e protestando. O noticiário muda o foco. Dá uma trégua às mazelas nacionais. Agora tudo volta ao real. José “quer ir para Minas, Minas não há mais”. Você marcha, José! José, para onde?

Grande abraço!

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

Imagem: sxc.hu

Thomas Agnus https://www.duniverso.com.br/

Autor do livro “O Emburrecimento do Mundo – Dicas Para Extinguir Uma Raça”, lançado pela Editora Viseu. Fundei o Portal Duniverso em 2009, iniciando minha saga como escritor.
P.S.: Nem todos os artigos são de minha autoria. No final de cada um encontra-se o nome do autor.

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