Cheiros do Mundo

Cheiros do Mundo

Por Antônio de Oliveira

O mundo é visto, ouvido, apalpado, degustado, cheirado. Odor agradável, odor desagradável; mau odor, mau cheiro. Fedor, fetidez. Odor de rosas, de camélia, de gardênia, de perfume de mulher, de “perfume de gardenia que tiene tu boca”, do mel de tuas palavras. Cheiro de bebê depois do banho, cheiro do amanhecer, dos orvalhos da graça de Deus, da chuva xampu de Deus, do “bom odor de Cristo”, do cheiro de santidade, do perfume de manacá-de-cheiro, do jasmim. Ah, de dama-da-noite.

Cheiro atrai gosto, cheiro gostoso. Cheiro disso ou daquilo, cores do mundo, cheiros do mundo, tempero, paladar do mundo, afinação do mundo. Apesar de tanto ruído ambiental, de tanta música ensurdecedora, de tanta sujeira e poluição sonora, o mundo ainda é divinamente afinado. Afinado para quem tem narinas de aspirar o cheiro da brisa do mar e ouvidos de ouvir em intervalos, com acentos fortes e fracos, fracos e fortes, o ritmo das ondas, da respiração, do coração, da oscilação de um pêndulo no ciclo das horas, do galopar ou do trotear dos cavalos, das marés, das fases da Lua, do ciclo menstrual.

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Exalar pode ser o resultado de emitir, lançar de si vapores, gazes, odores, fedores. Um perfume de qualidade exala um aroma delicioso; um perfume vagabundo exala mau cheiro. Aspira-se “com delícia a aura impregnada de perfumes”. Combinando som e cheiro, soltam-se gemidos, inquietações, suspiros dobrados, beijinhos doces. Os sentidos externos interagem. Ora exalamos cólera, ira, ora não se exala a menor queixa. A árvore assassinada pela volúpia de uma motosserra responde com um cheiro característico de serragem fresca que perde a seiva do seu organismo. Um serrador lhe rouba o vigor, o viço, a força, a energia, a seiva, o sangue, o cheiro do fruto, das flores, das folhas. Para Jalaluddin Muhammad Rumi, no séc. XIII: “Se uma árvore pudesse mudar de lugar por meio de pés ou de asas, não sofreria a dor das serras ou os golpes do machado”.

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

Imagem: sxc.hu

Thomas Agnus https://www.duniverso.com.br/

Autor do livro “O Emburrecimento do Mundo – Dicas Para Extinguir Uma Raça”, lançado pela Editora Viseu. Fundei o Portal Duniverso em 2009, iniciando minha saga como escritor.
P.S.: Nem todos os artigos são de minha autoria. No final de cada um encontra-se o nome do autor.

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