A Vida é Um Gerúndio

A Vida é Um Gerúndio

Por Antônio de Oliveira

A vida é um gerúndio. Ou está sempre no gerúndio. Do latim, gerúndio é um tempo verbal que expressa aquilo que está sendo feito. Por exemplo, quando se está escrevendo, a ação continua, está por terminar, não está completa, está por completar. Há quem seja contra o emprego do gerúndio. Prefiro distinguir o gerúndio do “gerundizando”, um vício de linguagem muito comum. Na verdade, eu não vou estar completando sua ligação, eu vou completar sua ligação.

Mas o gerúndio… Esse expressa um contínuo, no momento, não um vir a ser: estou escrevendo, estive escrevendo, estarei escrevendo. A vida humana é um permanente gerúndio, desde o nascimento até à morte. “Eu vivo”, essência, se distingue de “eu estou vivendo”, existência, embora ser e existir coexistam inseparavelmente, este dando continuidade ao ser, vida imanente, aquele identificando o ser. Diz a canção: “Eu bebo sim, Eu tô vivendo. Tem gente que não bebe, e tá morrendo”.

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Sou o que sou, mas no momento eu estou acontecendo, sou eu e minhas circunstâncias. Vivendo e aprendendo. Errando e acertando. Fazendo, desfazendo, refazendo. Lendo, relendo, treslendo. Construindo, desconstruindo, reconstruindo. Agindo, reagindo, interagindo. Pecando, convertendo-me, arrependendo-me. Nascendo, vivendo e morrendo. Administrando, avaliando, reavaliando. Dormindo, acordando, trabalhando. Adoecendo, cuidando-me, restabelecendo-me. “Suando para ser bom e caridoso em todas as horas da noite e do dia”. (Guimarães Rosa).

Gerúndio é estar, estado passageiro, estágio, tirocínio, situação provisória, em andamento. Ser é estado permanente. Por isso o gerúndio vem precedido do verbo estar, não do verbo ser. Eu estou lendo, não eu sou lendo. Detalhes que fazem a diferença e dos quais não nos damos conta, dado o automatismo da linguagem. Expressando modo, Cartola preferiu escrever “A sorrir, eu pretendo levar a vida”, em vez de “Sorrindo, eu pretendo levar a vida.” Dá na mesma.

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

Imagem: sxc.hu

Thomas Agnus https://www.duniverso.com.br/

Autor do livro “O Emburrecimento do Mundo – Dicas Para Extinguir Uma Raça”, lançado pela Editora Viseu. Fundei o Portal Duniverso em 2009, iniciando minha saga como escritor.
P.S.: Nem todos os artigos são de minha autoria. No final de cada um encontra-se o nome do autor.

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