Em nome da Páscoa

Em nome da Páscoa

Por Antônio de Oliveira

A gente se acostuma com o que vê: com o justo e o injusto, limpo ou sujo, autêntico ou distorcido, engajado ou alienado, pichado ou pintado, rico ou miserável, imperialista ou terrorista, sublime ou grotesco, democrata ou demagogo. A gente se acostuma com a guerra. Pois há quem não saiba viver em paz, daí o paradoxo: há quem durma tranquilo em meio à própria violência. Mais: uma cultura ou um sistema determinam o errado e o certo, transformam o desumano em aparentemente normal, a depredação, em coisa natural. Culpa-se o inocente porque os violentos e os corruptos tomaram conta.

A gente se acostuma com o profano. Ovos de Páscoa locupletam supermercados. Denominados de Páscoa, ovos de chocolate são vendidos em profusão e disputados aos empurrões, nos supermercados, principalmente no final da Semana Santa. O adjetivo ‘santa’, aqui, apenas empresta mais um, e grande, atrativo consumista. É o profano se apropriando do sagrado. Lucro é a referência. Embora, para alcançar esse objetivo, empregue-se muita gente, é mais um rótulo religioso, cujo conteúdo é criticado por muitos, mas que alimenta e aquece o mercado.

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Consoante origens simbólicas, o ovo representa fertilidade e vida e, na Páscoa, ressurreição. Entretanto, o que passa batido, entre nós, é que o comércio fatura alto com esses ovos explorando o evento Semana Santa. Sem essa motivação, o gostoso chocolate volta a ser vendido normalmente em barras sem o magnetismo da Páscoa.

Não se trata de ser utópico, mas de dar ainda um pouco de sentido a certas tradições. Na verdade, o que impressiona hoje é o rótulo, a grife. O negócio, literalmente negócio, é tornar uma mercadoria objeto de desejo. Objeto de desejo e de consumo é também produto associado cronologicamente a comemorações de caráter religioso, social ou cívico. Sobretudo litúrgico, cujo eixo é a Páscoa, símbolo emblemático da passagem pela estrada da vida. Todos temos prazo de validade.
Boa Páscoa!

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

Imagem: sxc.hu

Thomas Agnus https://www.duniverso.com.br/

Autor do livro “O Emburrecimento do Mundo – Dicas Para Extinguir Uma Raça”, lançado pela Editora Viseu. Fundei o Portal Duniverso em 2009, iniciando minha saga como escritor.
P.S.: Nem todos os artigos são de minha autoria. No final de cada um encontra-se o nome do autor.

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