A Cor e o Tempo

A Cor e o Tempo

Por Antônio de Oliveira

O tempo tem cor. Comprovam-no o espelho e os retratos, de retratistas mesmo, que o tempo amareleceu. Fotos cuidadosamente guardadas numa caixa de papelão. Comprova-o a cor dos templos restaurados pela recuperação de sua cor original. A matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, conhecida como Matriz de Antônio Dias, foi restaurada. Depois de muito tempo com o tom avermelhado, meio puxado para o rosa, com o qual a população se havia acostumado, uma restauração devolveu à igreja o tom amarelo-ocre, rejuvenescendo-a.

É que a cor dos templos também envelhece com o tempo. Modifica-se. No caso dos humanos, é impossível recuperar a cor dos cabelos, a não ser artificialmente. Sutil diferença entre pintura e tintura. O sentimentalismo acompanha a história. O tempo desbota. A memória se desbota com o tempo. Mesmo um tecido de cor atraente desbota. Desbotam-se as imagens do passado. Até aquele olhar já não é o mesmo. Desbotou-se com o tempo. O abismo da vaidade não aceita o desbotar do tempo. Como fulana está acabada! Sicrano tá acabadinho, apagadinho. Beltrano não está com a cor boa. Tá descorado. Aquarela descolorida. “A beleza é enganosa, e a formosura, passageira”. Palavras de Salomão. É verdade que, por vezes, a cor pode voltar: A cor dele voltou…

Na velhice, cabelos grisalhos, pele flácida, rosto enrugado. Um olhar distante: a juventude, uma lembrança tenazmente guardada. O tempo tem a cor de um fogo arrasador que apaga as paixões. Dragão avassalador a engolir outro fogo, o fogo vivo e vibrante, por vezes inconsequente, da mocidade.

A esfinge apresentara o seguinte enigma: “Que animal anda, pela manhã, sobre quatro patas, à tarde sobre duas e, à noite, sobre três?” Como nenhum dos homens acertava a resposta, a esfinge os devorava. Finalmente, Édipo decifrou a charada: “O homem, pois engatinha na infância, anda ereto na idade adulta e necessita de bengala na velhice.” Visual acompanhando a idade.

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

Imagem: wikipedia

Thomas Agnus https://www.duniverso.com.br/

Autor do livro “O Emburrecimento do Mundo – Dicas Para Extinguir Uma Raça”, lançado pela Editora Viseu. Fundei o Portal Duniverso em 2009, iniciando minha saga como escritor.
P.S.: Nem todos os artigos são de minha autoria. No final de cada um encontra-se o nome do autor.

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