Bolsa de Mulher

Bolsa de Mulher

Por Antônio de Oliveira

Num quadro do Programa Silvio Santos era feita a seguinte pergunta às colegas de trabalho: – Quem tem uma tesourinha? E não é que uma bolsa de mulher carrega de tudo? Batom, espelho, caneta, fio dental, escova de dente, gominhas de cabelo, pinça, chocolate, filtro solar, talão de cheques, agenda, óculos escuros, molho de chaves, lenços de papel, documentos diversos, um iPad… y otras cositas más…  Esse mundo também é assim. Cheio de acessórios, penduricalhos, balangandãs, atavios, adereços, fantasias ambulantes, excelências, propagandas sutilmente mentirosas… O mundo está cheio de tudo e mais um pouco, dispensável ou não, que nem bolsa de mulher.

Eça de Queirós escreveu: “Até a cruz, a forma suprema, tem perdido entre os homens a sua divina significação. A cristandade, depois de a ter usado como lábaro, usa-a como enfeite. A cruz é broche, a cruz é berloque; pende nos colares, tilinta nas pulseiras; é gravada em sinetes de lacre, é incrustada em botões de punho; e a cruz realmente neste soberbo século pertence mais à ourivesaria do que pertence à religião…”

Depois dessa, de Eça, quase nada mais a declarar. Ora essa! Muito se fala em politicamente correto. Ninguém fala em humanamente correto. O secundário vem antes do principal. O divino, nós o mantemos sobrenaturalmente à distância. Pouco se fala no valor divino do humano. Esquecemo-nos das necessidades básicas da população. No afã consumista, criamos e alimentamos necessidades novas, dispensáveis. Tendas de ovos de chocolate em vez de feijão com arroz no prato dos necessitados, feijão com arroz surrupiado pelos desvios de verbas e outras maracutaias. Um lauto prato de bacalhoada simulando abstinência de carne. Estádios majestosos rodeados de casebres. Velórios de luxo, lápides suntuosas. Cova rasa, “com palmos medida”, é de indigente ou “de escravo humilde sepultura” (A Cruz da Estrada). Há mais preocupação em propina que em por fim à miséria.

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

Imagem: sxc.hu

Thomas Agnus https://www.duniverso.com.br/

Autor do livro “O Emburrecimento do Mundo – Dicas Para Extinguir Uma Raça”, lançado pela Editora Viseu. Fundei o Portal Duniverso em 2009, iniciando minha saga como escritor.
P.S.: Nem todos os artigos são de minha autoria. No final de cada um encontra-se o nome do autor.

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